e a verdade é que também é frágil a minha forma de gostar-te.
Tudo o que me chega de ti, palavras, beijos, luzes, injustiças,
traz essa fragilidade das dunas que lembram o teu corpo
e esse código antigo decerto herdado da primavera,
antes mesmo de haver um tempo de celebração das flores.
Por vezes gostava de ser tu. Ser frágil e usar anéis
com as pedras raras da esperança, as insondáveis pedras
dos dias que hão-de vir. Mas vivo o exílio destes dias repetidos
sobre a efemeridade da pele, vogando como cisnes moribundos
em busca de uma última revelação, talvez a melodia tão pura
que possa transformar em pão não só as nossas rosas
mas também a própria liberdade.
E é por isso que amo
as palavras frágeis, essas palavras nuas que me ofereces
e que são, assim, de tão frágeis, a minha imensa força
e o meu fatal deslumbramento."
Joaquim Pessoa
1 comentário:
O grande Pessoa no seu melhor.
Um deslumbre!
beijinho
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