quarta-feira, 18 de abril de 2012

Canção de amor

"Eu cantaria mesmo que tu não existisses, 
faria amor, assim, com as palavras. 
Eu cantaria mesmo que tu não existisses 
porque haveria de doer-me a tua ausência. 

Por isso canto. Alegre ou triste, canto. 
Como se, cantando, tocasse a tua boca, 
ainda antes da tua presença. 
Direi mesmo, depois da tua morte. 

Eu cantaria mesmo que tu não existisses, 
ó minha amiga, doce companheira. 
Eu festejo o teu corpo como um rio, 
onde, exausto, chegarei ao mar. 

Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses, 
porque nada eu direi sem o teu nome. 
Porque nada existe além da tua vida, 
da tua pele macia, dos teus olhos magoados. 

Assim quero cantar-te, meu amor, 
para além da morte, para além de tudo."

Joaquim Pessoa, in 'Canções de Ex-Cravo e Malviver'





(Porque quem tem o dom de saber escrever assim tão bem, merece ser relido vezes e vezes sem conta. Grande poeta!)

2 comentários:

mfc disse...

O Joaquim Pessoa é dos poetas que mais me tocam entre os contemporâneos.
Mas não posso esquecer o David Mourão Ferreira a falar do amor, quer seja inocente, quer seja sedutoramente erótico!

M* disse...

Não conheço a obra de David Mourão Ferreira, mas irei pesquisar e ler algumas poesias dele.
Mas irei sempre apreciar e adorar a poesia de Joaquim Pessoa, um dos meus poetas predilectos.