"Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
faria amor, assim, com as palavras.
Eu cantaria mesmo que tu não existisses
porque haveria de doer-me a tua ausência.
Por isso canto. Alegre ou triste, canto.
Como se, cantando, tocasse a tua boca,
ainda antes da tua presença.
Direi mesmo, depois da tua morte.
Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
ó minha amiga, doce companheira.
Eu festejo o teu corpo como um rio,
onde, exausto, chegarei ao mar.
Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.
Assim quero cantar-te, meu amor,
para além da morte, para além de tudo."
Joaquim Pessoa, in 'Canções de Ex-Cravo e Malviver'
(Porque quem tem o dom de saber escrever assim tão bem, merece ser relido vezes e vezes sem conta. Grande poeta!)
2 comentários:
O Joaquim Pessoa é dos poetas que mais me tocam entre os contemporâneos.
Mas não posso esquecer o David Mourão Ferreira a falar do amor, quer seja inocente, quer seja sedutoramente erótico!
Não conheço a obra de David Mourão Ferreira, mas irei pesquisar e ler algumas poesias dele.
Mas irei sempre apreciar e adorar a poesia de Joaquim Pessoa, um dos meus poetas predilectos.
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