quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Narciso



"Dentro de mim me quis eu ver. Tremia, 
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço... 
Ah, que terrível face e que arcabouço 
Este meu corpo lânguido escondia! 

Ó boca tumular, cerrada e fria, 
Cujo silêncio esfíngico bem ouço! 
Ó lindos olhos sôfregos, de moço, 
Numa fronte a suar melancolia! 

Assim me desejei nestas imagens. 
Meus poemas requintados e selvagens, 
O meu Desejo os sulca de vermelho: 

Que eu vivo à espera dessa noite estranha, 
Noite de amor em que me goze e tenha, 
...Lá no fundo do poço em que me espelho!"

José Régio

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