sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Criadores (e proprietários) de cães...

...um conselho (gratuito):

Quando se virarem para o vosso cão e mesmo depois de lhe dizerem "senta" ele não se sentar, e depois ainda de acrescentarem "SENTA!" ele não se sentar mesmo assim....
....experimentem perguntar-lhe calmamente: "voulez-vouz parlez francais?"


Isto porque ainda hoje assisti a uma cena do género: "espera aí....não te mexas. Epa, espera aí! ESPERAAA!!"  e só queria relembrar que os cães (e restantes animais) não falam outra língua, aliás, não falam língua nenhuma, são espécies diferentes da nossa e por isso é necessário compreendê-los e tentar utilizar essa informação para levá-los a que nos compreendam e não pensar que, por magia, instantaneamente, eles nos possam compreender a nós.
Pensem nisso. Tudo o que não seja humanidade agradece.

Cartas de (muito) amor

Sem querer generalizar erradamente as grandes personalidades que foram aparecendo pelo mundo e que foram ficando na História, posso presumir (não afirmando) que todos tinham uns ou outros problemas de relacionamentos. Senão vejamos o caso de Fernando Pessoa (sou uma fã de fim de semana é verdade, mas sou fã) à sua querida Ofélia. Primeiro tem a decência de lhe mandar escritos deste tipo:
"às 4 da madrugada
Meu amorzinho, meu Bébé querido:
São cerca de 4 horas da madrugada e acabo, apezar de ter todo o corpo dorido e a pedir repouso, de desistir definitivamente de dormir. Ha trez noites que isto me acontece, mas a noite de hoje, então, foi das mais horriveis que tenho passado em minha vida. Felizmente para ti, amorzinho, não podes imaginar. Não era só a angina, com a obrigação estupida de cuspir de dois em dois minutos, que me tirava o somno. É que, sem ter febre, eu tinha delirio, sentia-me endoidecer, tinha vontade de gritar, de gemer em voz alta, de mil cousas disparatadas. E tudo isto não só por influencia directa do mal estar que vem da doença, mas porque estive todo o dia de hontem arreliado com cousas, que se estão atrazando, relativas á vinda da minha família, e ainda por cima recebi, por intermedio de meu primo, que aqui veio ás 7 1/2, uma serie de noticias desagradaveis, que não vale a pena contar aqui, pois, felizmente, meu amor, te não dizem de modo algum respeito.
Depois, estar doente exactamente numa occasião em que tenho tanta cousa urgente a fazer, tanta cousa que não posso delegar em outras pessoas.
Vês, meu Bébé adorado, qual o estado de espirito em que tenho vivido estes dias, estes dois ultimos dias sobretudo? E não imaginas as saudades doidas, as saudades constantes que de ti tenho tido. Cada vez a tua ausencia, ainda que seja só de um dia para o outro, me abate; quanto mais hão havia eu de sentir o não te ver, meu amor, ha quasi três dias!
Diz-me uma cousa, amorzinho: Porque é que te mostras tão abatida e tão profundamente triste na tua segunda carta - a que mandaste hontem pelo Osorio? Comprehendo que estivesses tambem com saudades; mas tu mostras-te de um nervosismo, de uma tristeza, de um abatimento tães, que me doeu immenso ler a tua cartinha e ver o que soffrias. O que te aconteceu, amôr, além de estarmos separados? Houve qualquer cousa peor que te acontecesse? Porque fallas num tom tão desesperado do meu amor, como que duvidando d'elle, quando não tens para isso razão nenhuma?
Estou inteiramente só - pode dizer-se; pois aqui a gente da casa, que realmente me tem tratado muito bem, é em todo o caso de cerimonia, e só me vem trazer caldo, leite ou qualquer remedio durante o dia; não me faz, nem era de esperar, companhia nenhuma. E então a esta hora da noite parece-me que estou num deserto; estou com sêde e não tenho quem me dê qualquer cousa a tomar; estou meio-doido com o isolamento em que me sinto e nem tenho quem ao menos vele um pouco aqui enquanto eu tentasse dormir.
Estou cheio de frio, vou estender-me na cama para fingir que repouso. Não sei quando te mandarei esta carta ou se acrescentarei ainda mais alguma cousa.
Ai, meu amor, meu Bébé, minha bonequinha, quem te tivesse aqui! Muitos, muitos, muitos, muitos, muitos beijos do teu, sempre teu
Fernando
19/02/1920"

Depois, lembra-se de escrever isto:


Todas as Cartas de Amor são Ridículas 

Todas as cartas de amor são 
Ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras, 
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser 
Ridículas.

Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor 
É que são 
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia 
Sem dar por isso 
Cartas de amor 
Ridículas.

A verdade é que hoje 
As minhas memórias 
Dessas cartas de amor 
É que são 
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas, 
Como os sentimentos esdrúxulos, 
São naturalmente 
Ridículas.)

Álvaro de Campos


Terá sido um poema fruto de um ataque de consciência: afinal... as cartas de amor são ridículas, ele piegas, é que não!

De modé

A minha querida amiga Olívia Palito há uns tempos atrás falou que se publicar algo a ofender o blogue, o número de comentários e visualizações ao perfil iria aumentar, pois, a acrescentar a esta fica uma outra: Se quiserem ver o número de visitas a aumentar publiquem comentários às crónicas da moda...

Em acréscimo: após ter visto a explicação da "escritora" Margarida Rebelo Pinto à crónica "Gordinhas e as outras" no programa Lado B (no youtube) pude constatar que, de facto, sou uma pessoa bastante optimista (ver publicação anterior)... De qualquer das formas, as críticas são merecidas, as ofensas, não.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Gordinhas e as outras - minha versão

Desde de 2010 que o artigo "Gordinhas e as outras", da Margarida Rebelo Pinto está no site da Sol, mas tendo em conta que agora se tornou moda comentá-lo, não quero ficar atrás e também direi a minha opinião sobre ele.
Particularmente não gosto da Margarida Rebelo Pinto, mas isso muito sinceramente não interessa para o caso, pois vou comentar o artigo não a mulher em si, muito menos a escritora (de livros) que é (e repito: eu particularmente não gosto).

Bem, para mim, posso tirar dois pontos de vista de lá (depende só da perspectiva): Por um lado coloca estereótipos e ofende as "gordinhas" afirmando que podem ser amigas dos homens (ter um estatuto superior às chamadas "giras") por ser assim. Portanto, ela considera-se uma "gira" (falando indirectamente através das amigas) que gostava de não ter o peso da educação em cima. Ou: porque têm as "Gordinhas" (raparigas que no fundo são exactamente iguais às outras) que ser tratadas de uma forma diferente, uma forma como os rapazes se tratam mutuamente? Uma injustiça, é certo, pois são mulheres como qualquer uma, não é por terem mais peso (ou outras quaisquer características, fala-se no peso porque calha) que devem ser tratadas como um homem.
Afinal, aquilo que ela retrata e critica é real. Mas retirando os estereótipos... não há cá as gordinhas e as magras. Há as garotas e as mulheres (para mim). E as primeiras têm inveja das segundas e ainda assim não fazem nada para mudar... As primeiras são as consideradas "one of the guys", aquelas para que ninguém olha...e que se contentam em ser assim e pior: ainda invejam as que tentam (e se esforçam) para serem mulheres.

Por isso, não conhecendo a pessoa em questão e não tendo lido mais do que o próprio artigo, algumas ofensas à sua pessoa e mais algumas ofensas à sua pessoa, só posso afirmar que: minha senhora, se o seu objectivo era escrever um texto sarcástico de forma a criticar a colocação de estereótipos e o tratamento diferente das pessoas devido à sua diferente forma física (ou outros) bem como o acomodar das "gordinhas" à sua vida normal e infeliz, fê-lo mal. Se eventualmente só queria chamar a atenção (indirectamente através das amigas) pelo facto de ser considerada miúda gira e não ter a oportunidade de tratamento especial que as "gordinhas", amigas verdadeiras e sinceras dos homens têm, prefiro à mesma continuar a acreditar que era mesmo a primeira opção... Só porque gosto de ser optimista.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Casa de fados


Genious

A melhor coisa que pode acontecer a um génio é morrer. Só assim consegue ver o seu trabalho reconhecido.

Saber ler

"Toda a gente culta lamenta que, nos países civilizados, ainda haja muitos seres humanos que não sabem ler. Parece-nos isto uma vergonha para a Civilização. De facto o é. Poucos, todavia, de entre toda essa gente culta, chegam a meditar um pouco sobre as vantagens e desvantagens de saber ou não saber ler.
A primeira vantagem de saber ler – primeira, por ser a que imediatamente ocorre a qualquer pessoa – é de ordem prática. Evidente se torna que, neste nosso mundo moderno, o analfabeto está praticamente inibido de muitas coisas. Mas outra vantagem – talvez não menos importante – oferece a leitura, que é de abrir o acesso à cultura. Analfabetos há que, pela experiência da vida, pelo trato com os homens, pelos dons naturais, adquirem aquele grau de cultura já implicada. E homens há que sabem ler mas não sabem dispor dessa estupenda vantagem, e então como que ficam analfabetos apesar de saberem ler.
Nos primeiros se torna particularmente aflitivo o analfabetismo. Pois se, com a simples experiência e os dons naturais, conseguem eles distinguir-se, até onde não iriam se soubessem ler, se pudessem cultivar a leitura? Quanto aos segundos, - são o exemplo dum mal que sempre existiu, mas particularmente alastra nos nossos vertiginosos dias. Sim, não basta saber ler, se por saber ler se entende distinguir uns certos caracteres e dar-lhes significado! Há um saber ler que vai muito mais longe, muito mais alto, muito mais fundo. E só este verdadeiramente abre as portas de oiro da cultura autêntica.
Neste superior sentido – não, não sabe ler o indivíduo que se limita a devorar jornais, revistas, selecções ou romances mais ou menos policiais, com um mínimo de actividade mental. Porque saber ler – no superior sentido – é meditar os grandes autores; dialogar com eles, discutir com eles os problemas que nos propõem; viajar de braço dado com eles, pelos maravilhosos reinos da Sensibilidade, da fantasia, da inteligência; admirar, conscientemente, o que nos ofereçam de grande, belo, verdadeiro; chegar, enfim, a ser digno do seu convívio, e enriquecer o espírito ao calor e à luz desse contacto.
Isto, sim, é saber ler, - porque saber ler é colaborar. Mas isto exige atenção, vagar, concentração, recolhimento, esforço. O profundíssimo prazer da boa leitura é com tal moeda que se paga. Aqui me dirão que a vertiginosa vida actual não chega para tanto! Não dá tempo. E eu bem vejo que em grande parte se substitui hoje a leitura pela Rádio ou a Televisão, como se pudesse o quer que seja substituir a leitura! Bem vejo que se lê onde calha, como calha, ao Deus dará. Por certo é melhor ler mal, que nada. Mas, no fim e ao cabo, ou o homem acabará por sofrer uma degradação, ou, na medida do possível, terá de se opor à vertigem em que hoje vai arrastado. Meus amigos! Em havendo vontade e juventude, há sempre uma medida do possível até contra a mais firme aparência do impossível."



José Régio, O Grito, n.º 5, 1 de Abril de 1960.


"Stolled" from here
Por norma, concordo com todos os artigos, pensamentos ou citações que aqui coloco no blogue, quando tal não acontece, geralmente comento-os. Neste caso, não serão precisos comentários ao texto, pois concordo plenamente com o que é defendido. 

domingo, 26 de agosto de 2012

Casa Museu José Régio

Apresentação da sua casa em Portalegre: http://videos.sapo.pt/7NZzUlZHDZpNtsuQ9Swr

(peço-vos desculpa pela apresentação do link mas eu não sei incorporar este tipo de vídeos nas publicações)

Pela cidade...

Hoje fui dar uma caminhada pela serra e pela cidade e encontrei algumas casas abandonadas, e pude ver e fotografar alguns dos mais importantes monumentos da cidade e além de me ter maravilhado com a sua beleza, ainda pude saber que o "Paulo é maricas" e que a "Ana ama o Rui"... Só por essa informação preciosa, já valeu a pena a caminhada...
Agora a sério: porquê tanto vandalismo? Qual o gosto de encherem os monumentos com escritos a corrector ou spray? Não deve haver nada pior que os visitantes virem à cidade e encontrarem as ruas sujas de lixo e monumentos abandonados e vandalizados. Deveriam ser aspectos a ter em conta...



Música - A Bia da Mouraria (Fado)


A Bia da Mouraria - Carminho

Cães de raça perigosa

É incrível como em casos destes o animal ainda é abatido. Se vivêssemos num país onde reinasse a educação isto não aconteceria, pois se nem aos próprios filhos muitos são capazes de educar, como se espera que o façam com um animal, seja este de que espécie for. Além de que, por coincidência fantástica, muitos cães "perigosos" têm andado a matar muita gente ultimamente. Pergunto-me se não seria uma situação anteriormente que ocorria com a mesma frequência, mas antes, pouco conhecida.

Música do dia - Só nós dois é que sabemos


Só nós dois é que sabemos - Francisco José

sábado, 25 de agosto de 2012

Portalegre pela noite


Coloquei esta foto pelo pormenor da nitidez do horizonte e das lindas cores exibidas no céu. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

José Régio por Feliciano Falcão (e compilação de imagens) II


Continuação da publicação anterior...

Fachada da casa onde viveu em Portalegre (Pensão 21)
Casa Museu José Régio  (anterior Pensão 21)





Possivelmente à janela, mas desta vez, em pose

No escritório, em Portalegre

Miradouro da Serra, 19 de Outubro de 1949. Da esquerda para a direita: Renato Torres, José Régio,  o pai de José Régio (José Maria) e Firmino Crespo





José Régio por Feliciano Falcão (e compilação de imagens) III

Continuação das publicações anteriores...
Na Serra de S. Mamede 21 de Julho de 1952. Da esquerda para a direita: David Mourão-Ferreira, José Régio, Adelino Santos e Feliciano Falcão

Portalegre, Liceu Mouzinho da Silveira, 1958


 As fotografias foram todas retiradas da Internet (por opção, pois achei que fosse interessante juntar algumas, no entanto, nenhuma delas me pertence. Caso haja oposição na sua partilha aqui, peço que me contactem)

Para quem acha que são muitas fotografias do mesmo: esse era o objectivo.

Sei que no blogue as publicações estão trocadas, mas o que importa, no fundo, são as imagens em si e não a ordem em que estão. 

José Régio por Feliciano Falcão (e compilação de imagens) I

"... José Régio, poeta, crítico, romancista e escritor de teatro, reside há mais de dez anos em Portalegre, para onde o trouxeram seus labores profissionais, sem que à sua volta, em tempo algum, sentisse um lampejo de curiosidade pela sua obra originalíssima e vibrante (não deixemos de dizer: dos mais extraordinários das nossas letras contemporâneas). O eco da sua poesia, da sua estética, de influxos renovantes, das suas capacidades críticas notáveis, da sua personalidade inconfundível, parece não ter chegado ainda a este recanto alentejano. Não se dá por coisa alguma. E, no entanto, estamos na presença de um singular temperamento de intelectual que dignifica nobremente o espírito, onde o poeta se individualiza como dos maiores da nossa língua e da nossa literatura poética de todos os tempos.
A poesia de Régio é uma dissecação abismal do seu ‘Eu’, opresso e torturante. As suas faculdades intelectivas e uma imaginação cautelosa, temperada de emoção rubra, se debruçam persistentemente sobre o seu ser anímico com um ‘élan’ criador de grandeza imperecível. Nas suas dúvidas íntimas, na sua solidão, autobiópsia exaustiva, se devassam os recessos psíquicos do Homem e se procuram interpretar os seus destinos, numa ânsia quase mística de libertação e beleza integrais. Subjectivista, vivendo de si, para si e dentro de si, numa dramatização perene), seu Ego hipertrófico, de aparente renúncia perante os problemas da existência, plasma as angústias e os anseios de todos os homens numa inquietação gritante. Todos os que, cogitando sobre a Vida, alentam supremas altitudes, ali se espelham numa realidade fúlgida."
Feliciano Falcão


Por trás: Serra de S. Mamede
José Régio montado no burro que o levou a muitos passeios em busca de antiguidades para a sua colecção
O escritor numa das janelas da casa em Portalegre - (comentário meu a esta foto: é a prova que antigamente ainda não existia a possibilidade das maravilhas das máquinas digitais, calculo que tivesse agradecido que a opção "Delete" existisse ) 
Régio com a sua colecção de almofarizes, em Portalegre

Transcrito daqui. Este foi um blogue que eu encontrei há pouco tempo e que partilha textos muito interessantes sobre várias personalidades portuguesas. Vale a pena ler.

(pelo facto de exceder o limite de caracteres fixado, as imagens foram colocadas noutras publicações)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Penso em ti


"Surge a manhã! Tudo é festa
Tudo no campo é prazer, 
Trinam aves na floresta
Hinos do sol ao nascer,
Nestas horas misteriosas, 
Em que dos jasmins e rosas
Sobem perfumes aos céus, 
Nestas horas de magia
Em que tudo tem poesia,
Meus pensamentos...são teus.

Leva o sol seu curso em meio,
Tudo inunda em clara luz
E só das selvas ao seio
Branda sombra se produz.
Mal se ouvem os zumbidos
Dos insectos e os gemidos
Da fonte caindo além;
Nesta hora de ardente calma
De amor só me fala a alma
E este amor - é teu também.

Já vai desmaiando o dia,
Aumenta o grato frescor,
E na alameda sombria
Gorjeia o alado cantor;
Soltam-se os diques às presas,
Da rega é a hora, e às rezas
Convida o bronze cristão;
Cede o trabalho ao descanso
Nestas horas de remanso,
Meus pensamentos teus são.

Noite é já. A lua alta
Dos ares cruza a amplidão.
Longe, ao longe, o mar exalta
Aos céus a vaga canção;
E do arvoredo a folhagem
Quer na sua linguagem,
Seus bramidos imitar,
O sono a terra domina
E a tua imagem divina
Me enleia em brando sonhar!

Penso em ti a toda a hora,
De manhã, pelo arrebol, 
Depois, quando à luz da aurora
Sucede o fulgor do sol;
Penso em ti na hora amena
Em que a tarde vai serena
Envolver-se em ténue véu;
Penso em ti na noite escura,
E é toda a minha ventura;
A mais não aspiro eu."

Júlio Dinis, Obras Completas, Círculo de Leitores, 1979

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Música do Dia - "The Weeknd - Superhero"


Superhero - The Weeknd

[Verse 1:]
One to get loose, two for the honey
Three with the booze, four cause they money
How many shots does it take to start the game
I can tell by your drink, you've had a long day
Let me break the ice girl what's your name
Can I take all your worried stress away?
[Pre-Chorus:]
Do you always seem to fight 'cause I
Can tell that there aint no tears and I
Can help (help) you through your misery
Hospitality that you need from me
and girl I can hear the pain inside
Your voice, argue every night..
But that's a choice and I can take it all away
[Chorus:]
Let me rescue you
I can see the truth
I can see right through the pain
Let me rescue you, let me fill his shoes
No more tears running down your face
I can take you there I'll fly you through the air
Girl I can be your superhero
Flying through the stars and make light of your 
darkness
I can be your superhero
Baby can't you feel it
Power and those spirits and miracles are my 
specialty ooh
Girl straight from my comic book
And just one look I can tell
Don't need xrays to see, that you're with me.
[Pre-Chorus:]
Do you always seem to fight 'cause I
Can tell that there aint no tears and I
Can help (help) you through your misery
Hospitality that you need from me
and girl I can hear the pain inside
Your voice, argue every night..
But that's a choice and I can take it all away
[Chorus:]
Let me rescue you
I can see the truth
I can see right through the pain
Let me rescue you, let me fill his shoes
No more tears running down your face
I can take you there to fly you through the air
Girl I can be your superhero
flying through the stars and make light of your
darkness
I can be your superhero

domingo, 19 de agosto de 2012

Arte

"Em arte, é vivo tudo o que é original"

José Régio
História de vida interessante: Hitler sofreu 42 atentados à sua vida, tentativas infrutíferas de acabar com o ditador, de tal forma, que chegou a pensar que a Providência estava intervindo a seu favor...e acabou por morrer suicidado.

Filosofia (pela noite adentro)

"Segundo Schopearhauer, filósofo alemão do séc. XIX, "toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre violenta oposição; terceiro, ela é aceita como auto-evidente". (De fato, riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a oposição. Por exemplo: Einstein)."
(site)



Como já dizia Fernando Pessoa: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se"

Lá está....e direitos de autor? Ah, pois é!




Post Scriptum (ou apelo ao bom senso): Como não sei se irão cuscar o site de onde retirei a informação, por breves palavras explico do que se trata. Este é um exemplo de uma falácia (ou sofisma) de apelo à autoridade, em que alguém tenta persuadir o ouvinte, mediante um raciocínio errado ou um argumento fraudolento, neste caso em particular, citando uma figura de autoridade para sustentar uma opinião. 
Já agora, para que se tenha cuidado e não se tome como certo este tipo de argumentos, é necessário ter em conta que, em todo o lado encontramos inúmera informação sobre tudo e também muitas citações de homens ilustres da História. Há que ter em atenção, pois não é por este tipo de pessoas serem conhecidas, letradas, etc. que tenham razão no que afirmam. Da mesma forma que, na publicidade, quando alguma figura pública aparece para promover uma marca, é exactamente a mesma coisa. OU (desculpem lá a emoção, mas isto já é a minha área de conhecimento) quando algumas notícias afirmam que "segundo estudos científicos" isto ou aquilo está provado. Na ciência, por vezes, uma hipótese aceite e provada num determinado momento pode ser revogada mais tarde. Por isso, por favor, não acreditem em tudo o que lêem relativamente aos estudos científicos, é preciso sermos cépticos em certos aspectos e sabermos distinguir a informação, com que todos os dias nos bombardeiam, daquela que é verdadeira e plausível e a que não é, e não acreditar em certas afirmações só porque "foram estudadas cientificamente". 

Don Juan



Já aqui falei de homens galanteadores, mas agora irei debruçar-me de uma outra forma na questão e irei esclarecer algo que disse nessa publicação. Primeiro, vamos aos esclarecimentos!
Quando eu afirmo que todos os homens galanteadores são mentirosos tenho um motivo para o fazer. Não pela pura experiência de conhecimento (até porque é pouca), mas na medida em que, um homem para conquistar não precisa mentir, claro está, mas tendo em conta que homens assim geralmente nunca se "saciam" só com uma conquista, é normal que para conquistar o coração de outra, lhe mintam. Deixando o palavreado bonito... Ninguém se vai chegar ao pé de uma mulher dizendo: "Tu és a segunda mulher da minha vida...E e tu és a terceira...E tu a quarta. Oh, mas eu adoro-vos a todas!". Claro que um homem assim vai querer dar a entender que cada uma é especial (não significa que o não seja, pois cada mulher é diferente e, como tal, fá-lo sentir coisas diferentes). Mas verdade seja dita que ele não o irá sequer dizer, até porque quando confrontado com a "mentira", irá negá-la. Não esqueçamos que um homem (e mulher - que as há também!) assim, ama-se mais a si próprio do que à pessoa por quem está interessada.

Segundo... vamos ao que me trouxe até ao blogue hoje.
Andava por aqui a deambular pelas maravilhas da Internet e lembrei-me de ir pesquisar críticas sobre o filme Don Juan de Marco, pesquisa puxa pesquisa e fui dar aqui (um site que estou a gostar bastante de conhecer), que fala sobre o donjuanismo.

"Don Juan é um personagem literário tido como símbolo da libertinagem. O primeiro romance com referência ao personagem foi a obra El Burlador de Sevilla, de 1630, do dramaturgo espanhol Tirso de Molina. Posteriormente Don Jun aparece em José Zorrillacom a estória de Don Juan Tenorio. A figura de Don Juan foi também cultuada na música, em obras de Strauss e Mozart, este último com a ópera Don Giovanni, composta em 1787. Outro paradigma do eterno sedutor é a figura de Casanova, conhecida pela autobiografia do veneziano Giovanni Jacopo Casanova.

Mas a figura do eterno sedutor continua atrelada à Don Juan, que aparece ainda na obra de Molière, em Le Festin de Pierre, no poema satírico de Byron chamado simplesmente Don Juan, no drama de Bernard Shaw, chamado Man and Superman
."

O donjuanismo representa um protótipo particular de comportamento humano, classificada particularmente pelos valores culturais e morais. (...)

(...) Descreve-se o donjuanismo como uma personalidade que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa difícil mas, uma vez conquistada, a abandona por desinteresse. As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. Elas são os anarquistas do amor (Sapetti), tornando válidos quaisquer meios para conquistar, não obstante, os sentimentos da outra pessoa não são levados em consideração. Aliás, Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da aliança e a lei do desejo fiel.

Em psiquiatria clínica, entretanto, o desprezo para com o sentimento alheio pode ser critério para caracterizar uma atitude sociopática ou anti-social. Para o donjuan só interessa o hedonismo, o instante do prazer e o triunfo sobre sua conquista, principalmente quando a pessoa de seu interesse tem uma situação civil proibida (casada, freira, irmã ou filha de amigo, etc ou os correspondentes masculinos). Sobre essa característica o escritor Carlos Fuentes, alega ao seu Don Juan a frase: "Porque nenhuma mulher me interessa se não tiver um amante, marido, confessor ou Deus, ao qual pertença ...".

Normalmente essas pessoas ignoram a decência e a virtude moral mas seu papel social tenta mostrar o contrário; são eminentemente sedutores. O aspecto de desafio mobiliza o donjuan, fazendo com que a conquista amorosa tenha ares de esporte e competição, muitas vezes convidando amigos para apostas sobre sua competência em conquistar essa ou aquela mulher. Não é raros que esses conquistadores tragam listas e relações das mulheres conquistadas, tal como um troféu de caça.

(...)

O narcisismo (traço feminóide) dessas pessoas é uma das características mais marcantes, a ponto delas amarem muito mais a si mesmas que a qualquer outra pessoa conquistada. Outros autores acham o donjuanismo um excesso do complexo de Édipo, ou fixação na mãe, já que muitos deles não constituem família com nenhuma de suas conquistas e acabam vivendo para sempre com suas mães.

(...) O amor neles é um sentimento fugaz, passageiro e que, continuadamente, tem o objeto-alvo renovado. Se algum déficit pode ser apurado na personalidade do donjuan, este se dá no controle da vontade.(...)" (
retirado do site)

Como leram, achei interessante o artigo pois fala sobre algo que é pouco usual hoje em dia, mas que existe e que leva a enganos de pensamento que consideram os homens iguais. Este donjuanismo não é doença. Existem homens que podem de facto ter problemas mentais (como o Transtorno Anti-Social da Personalidade, dito psicopata) e uma das características que estes podem apresentar é este tipo de  personalidade, podem ter a necessidade de conquistar e conquistar e conquistar...sem nunca sequer virem a saber o que é o amor. Depois existem outros transtornos, mais ligados à parte sexual, e ainda muitos outros. Existem homens que apenas gostam de conquistar (quem não gosta?) e não padecem deste mal. 

O donjuanismo é um traço que leva a que alguém deseje conquistar outro porque isso lhe fará sentir melhor, o amor que ele sente é um sentimento intenso de posse e desejo que nada tem a ver com sexo. Pois muitas vezes nem é necessário que haja envolvimento sexual, basta que o conquistador perceba que o objecto das conquistas já esta interessado para automaticamente perder o interesse e passar para outro.

Pessoalmente não creio que as pessoas em questão se possam considerar felizes (como alguma vez poderiam?). Sei que as mulheres em si, as "conquistadas", ficarão magoadas e nunca compreenderão o porquê de tal acontecimento, mas como costumo dizer, ninguém pede para nascer de uma certa forma. Eu também sou mulher e sei o que é conhecer um destes "românticos", já aprendi, agora é reconhecer as características e não voltar a fazer o mesmo. Claro que se o fizer mesmo sabendo no que me meto, é pura estupidez, mas para isso serve a vida e os acontecimentos que passamos. 
É necessário haver um pouco de compreensão. Sei que se sai magoado (e ele não precisa de se armar em Don Juan), mas para tudo existe um motivo, mais óbvio, ou menos óbvio, sem intenção ou com ela, só resta a nós sabermos viver e compreender as outras pessoas para que saibamos lidar com elas da melhor forma, pois não as podemos mudar (nem nunca iríamos gostar que nos tentassem mudar a nós). 
E, além do mais, é muito interessante estar sempre a aprender e termos a oportunidade de conhecer todos os tipos de pessoas na vida, pois permite-nos uma enorme variedade na forma de pensar e o nosso crescimento pessoal. 

Agora que já leram algo sobre isto, vejam o filme e as excelentes interpretações de Johnny deep, como Don Juan e Marlon Brando, como psiquiatra. 

Precisa-se de matéria prima para construir um país

"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos… e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:
-Onde a falta de pontualidade é um hábito;
-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é ‘muito chato ter que ler’) e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser ‘compradas’, sem se fazer qualquer exame.
-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como ‘matéria prima’ de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa ‘CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA’ congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates,
é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte…
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada…
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa ‘outra coisa’ não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados… igualmente abusados !
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começaa ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda…
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro… Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI
QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa ?… MEDITE !"


Eduardo Prado Coelho, in Público, 10/11/2005 (encontrei este texto pela Internet e achei bastante interessante partilhá-lo, no entanto, não tenho a certeza do autor, pois já encontrei vários sites que lhe atribuem o artigo e outros que não. Quem souber, por favor, comente)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Facebook


Carta ao professor Reis Pereira



Numa exposição existente na Biblioteca Municipal de Portalegre, chamada "José Régio: seus papéis e lugares", em Janeiro deste ano, pude ver alguns dos papéis que testemunharam o seu tempo de escola, publicações em jornais de textos seus e até mesmo cartas que ele mandou ou que lhe foram endereçadas. Aquela que me chamou mais a atenção e que ainda hoje me recordo, foi uma carta escrita por uma aluna dele (não me recordo se era aluna ou simplesmente alguém que queria conhecê-lo) em que no fundo demonstrava por ele uma enorme admiração e um grande gosto por tudo o que o escritor escreveu. Foi uma carta tocante porque de facto quem a escreveu mostrou uma enorme admiração pelo o escritor e embora já se tivessem visto (ou conhecido) ela nunca lhe chegou a dizê-lo pessoalmente, só ganhou coragem para lhe mandar a carta.
Eu sou da opinião que devemos dizer às pessoas que as admiramos quando o sentimos e acho muito bom poder aprender com quem é mais velho e sabe mais que nós. Por isso só acho que ela fez o que devia ter feito, mas como já sabemos que só vivemos uma vez e só temos apenas uma oportunidade para as coisas, devemos de aproveitar todas as que nos surgem e assim evitamos dizer às pessoas o que sentimos por carta ou Internet...

Não me peçam razões



"Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.


Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.


Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir."

José Saramago, in Os poemas Possíveis

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Música do dia - Plan B


Lost my way - Plan B

São poucas as bandas ou artistas que gosto, mas esta também é uma delas.
Qual a diferença entre uma mesma frase dita, por exemplo, por Camões, há séculos atrás e por um escritor contemporâneo que nunca a tinha ouvido na vida, muito mais tarde? Bem... nenhuma. A frase é a mesma, os direitos de autor é que não.

Deambulações pela escrita



É engraçada a forma como penso quando encontro em alguém. Não porque caricaturize as pessoas em questão, mas porque imagino sempre as suas particularidades, que a tornam especial, descritas por um escritor. As descrições das personagens, bem construídas, que encontramos nos livros são perfeitas em si para mostrar aquilo que passa pela imaginação de quem as faz. E, por vezes, quando me recordo daquela mulher que encontrei sentada num café, sozinha, a ler, ou aquele que corria naquela tarde, pela serra, ao pôr-do-sol, crio na minha mente uma forma esbelta, simples e sincera de os descrever. Não porque sejam especiais para mim, mas porque a forma como eu os imagino é assim que os torna, afinal, todos somos belos e especiais à nossa maneira. Só não temos um escritor no nosso interior que nos possa descrever, porque se tivessemos, seríamos tão perfeitos quanto qualquer personagem alguma vez criada.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

(Re)voltas

Há dias em que toda a gente me parece um empecilho e me dá vontade de mandá-los todos para um certo sítio, sinceramente!

Amigo de verdade



"A true friend cares like a mom, scolds like a dad, teases like a sister, irritates like a brother and loves more than a lover."

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Deslumbramentos




"Milady, é perigoso contemplá-la, 
Quando passa aromática e normal, 
Com seu tipo tão nobre e tão de sala, 
Com seus gestos de neve e de metal. 

Sem que nisso a desgoste ou desenfade, 
Quantas vezes, seguindo-lhe as passadas, 
Eu vejo-a, com real solenidade, 
Ir impondo toilettes complicadas!... 

Em si tudo me atrai como um tesouro: 
O seu ar pensativo e senhoril, 
A sua voz que tem um timbre de ouro 
E o seu nevado e lúcido perfil! 

Ah! Como me estonteia e me fascina... 
E é, na graça distinta do seu porte, 
Como a Moda supérflua e feminina, 
E tão alta e serena como a Morte!... 

Eu ontem encontrei-a, quando vinha, 
Britânica, e fazendo-me assombrar; 
Grande dama fatal, sempre sozinha, 
E com firmeza e música no andar! 

O seu olhar possui, num jogo ardente, 
Um arcanjo e um demônio a iluminá-lo; 
Como um florete, fere agudamente, 
E afaga como o pêlo dum regalo! 

Pois bem. Conserve o gelo por esposo, 
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos, 
O modo diplomático e orgulhoso 
Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos. 

E enfim prossiga altiva como a Fama, 
Sem sorrisos, dramática, cortante; 
Que eu procuro fundir na minha chama 
Seu ermo coração, como um brilhante. 

Mas cuidado, milady, não se afoite, 
Que hão de acabar os bárbaros reais; 
E os povos humilhados, pela noite, 
Para a vingança aguçam os punhais. 

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas, 
Sob o cetim do Azul e as andorinhas, 
Eu hei-de ver errar, alucinadas, 
E arrastando farrapos - as rainhas! "

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'

A Gentil Camponesa



MOTE 


Tu és pura e imaculada, 
Cheia de graça e beleza; 
Tu és a flor minha amada, 
És a gentil camponesa. 


GLOSAS 


És tu que não tens maldade, 
És tu que tudo mereces, 
És, sim, porque desconheces 
As podridões da cidade. 
Vives aí nessa herdade, 
Onde tu foste criada, 
Aí vives desviada 
Deste viver de ilusão: 
És como a rosa em botão, 
Tu és pura e imaculada. 


És tu que ao romper da aurora 
Ouves o cantor alado... 
Vestes-te, tratas do gado 
Que há-de ir tirar água à nora; 
Depois, pelos campos fora, 
É grande a tua pureza, 
Cantando com singeleza, 
O que ainda mais te realça, 
Exposta ao sol e descalça, 
Cheia de graça e beleza. 


Teus lábios nunca pintaste, 
És linda sem tal veneno; 
Toda tu cheiras a feno 
Do campo onde trabalhaste; 
És verdadeiro contraste 
Com a tal flor delicada 
Que só por muito pintada 
Nos poderá parecer bela; 
Mas tu brilhas mais do que ela, 
Tu és a flor minha amada. 


Pois se te tenho na mão, 
Inda assim acho tão pouco, 
Que sinto um desejo louco: 
Guardar-te no coração!... 
As coisas mais belas são 
Como as cria a Natureza, 
E tu tens toda a grandeza 
Dessa beleza que almejo, 
Tens tudo quanto desejo, 
És a gentil camponesa 


António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo...



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Definição de inteligência

" Procurando definir inteligência, esta pode ser considerada a capacidade mental de raciocinar logicamente, planear, resolver problemas, abstrair, manipular conceitos (números ou palavras), compreender ideias e linguagens, recordar acontecimentos remotos ou recentes, transformar o abstracto em concreto, analisar e sintetizar formas, assimilar conhecimentos concretos (aprender), enfrentar com sensatez e precisão os problemas e estabelecer prioridades entre um conjunto de situações.
Assemelhando-se a outras capacidades e competências, a definição de inteligência é profundamente influenciada pela sociedade que a define: em diferentes culturas, em diferentes épocas, valorizam-se diferentes competências e capacidades intelectuais." daqui

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A magia do amor

Sabemos quando amamos alguém, quando ao conhecermos centenas de pessoas só desejamos uma...e por muito tempo. A saudade é triste, mas "mais vale ter amado e perdido do que nunca ter amado" como o disse Shakespeare. Se em quatro anos sempre estiveste comigo, não será certamente num, por muitas pessoas que conheça e por muitas por quem me interesse, que te esquecerei. Amaria voltar a sentir o que sentia quando estávamos juntos. Mas sei que a vida é assim. Espero um dia mais tarde poder reencontrar-te, amigo. E espero um dia mais tarde descobrir que sinto por ti o mesmo que sentia quando te deixei...

Não, estas palavras não são para ninguém. Primeiro porque para quem são ele não irá ler e depois porque quem as lê não compreenderá. É apenas mais uma história de amor...

Pensar é estar doente dos olhos

A ler :
"...Filósofo e provocador.
Ao ler que
"Pensar é estar doente dos olhos",
fica-se a saber a causa
de o Fernando precisar de óculos.
E a supor que serão adereço obrigatório
de todos os filósofos."

aqui, faz-me pensar... eu sou pensadora (o que poderiam de chamar como filosofa amadora) e uso óculos. Portanto....essa indirecta também é para mim, certamente. Logo, mostro-me publicamente ofendida e acredito que se o nosso querido poeta fosse vivo, também não acharia certamente graça à brincadeira. Ora essa, meu caro! Que afronta!

Selo


A MC - Maria capaz teve a gentileza de me oferecer este lindo selo, mas com três condições:

1 - Dizer três factos sobre mim
Tenho cabelo castanho (facto importantíssimo)
Adoro ler
Gosto de ser autodidacta em algumas coisas

2 - Dizer qual dos rapazes da banda One Direction prefiro:
Resposta igual...não conheço nenhum eheh

3 - Passar o selo a três blogues:
Pérola
aNaMartins
Shiine*



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Afastamento

"Se te faz mal afasta-te." - disse-me uma amiga uma vez

E pronto. Palavras para quê? Não devemos nunca pensar que sabemos aquilo que a outra pessoa sente ou pensa, se ela não nos disser. Por vezes (a maior parte das vezes) afastamo-nos porque nos magoa, as outras, porque não sabemos lidar com a situação.

Bucéfalo e Alexandre


Esta para mim é das histórias mais bonitas da História: a de Alexandre, o Grande e o seu fiel companheiro Bucéfalo.
Conta a história que ninguém conseguia domar aquele garanhão muito menos montá-lo. E no entanto, Alexandre, foi o único que o conseguiu fazer descobrindo o seu ponto fraco: o cavalo tinha medo da própria sombra. Assim conseguiu montá-lo (virando-o para o sol, de forma a encandeá-lo e a impedi-lo ver as sombras) e a partir daí  foram companheiros inseparáveis durante 20 anos, tendo ele participado, juntamente com Alexandre, em muitas batalhas. Mais tarde, veio a morrer por ferimentos e pela idade durante a campanha de Alexandre na Índia. No local da sua morte, o imperador prestou-lhe homenagem fundando a cidade Bucéfala, no actual Paquistão.

(agora já perceberam quem é este cavalinho, anteriormente a encimar o blogue)

Olímpicos e Paralímpicos



Bem, uma coisa é certa: agora vamos aos Jogos Olímpicos e poucas medalhas ganhamos (toda a gente se desanima), chegam os Paralímpicos e trazemos mais que uma para casa (ninguém quer saber!). E acordarmos, an?!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Toada de Portalegre - completa



"Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Morei numa casa velha,
Velha, grande, tosca e bela,
À qual quis como se fora
feita para eu morar nela...

Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- Quis-lhe bem, como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como ao do meu aconchego. 

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras,
Do vento soão queimada,
(Lá vem o vento soão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for, 
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha, então, 
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante duma janela.

Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tolhe, gela,
E ao vento que anda, desanda, 
E sarabanda, e ciranda
Derredor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!

Serras deitadas nas nuvens, 
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e amarelos, 
Salpicados de oliveiras,
E ao que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados, 
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
De aquele silêncio imenso,
Eu sentia o chão fugir-me,
- Se abriam diante dela,
Daquela
Bela
Varanda
Daquela 
Minha 
Janela,
Em Portalegre, cidade 
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história, 
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao meu gosto de outrora
Como ao do meu aconchego...

Ora agora,
Que havia o vento soão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos, 
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento soão
De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De conta seja a quem for,
Que havia o vento soão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha 
Janela
O testemunho maior
De que Deus
É protector 
Dos seus
Que mais faz sofrer?

Lá num craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma flor miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Bela
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...

Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola, 
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere... e consola
Com o próprio mal que faz?
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, mas morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão - 
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do vento soão
Já várias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...

Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus, 
E o vento a traz à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela!

Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acaciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu, dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus, 
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...

Quem desespera dos homens, 
Se a alma lhe não secou, 
A tudo transfere esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar dos animais, 
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais, 
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for.

O amor, a amizade, e quantos
Sonhos de cristal sonhara, 
Bens deste mundo, que o mundo
Me levara, 
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, atónito,
A mim, que tanto esperara
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Autocadáver...

E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.

Vento soão!, obrigado
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado,
Sem eu sonhar, me chegava!
E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que eu vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema, 
Ou se um filho me nascera."

José Régio