sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Cesário verde




Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico,
um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

3 comentários:

MJ FALCÃO disse...

Olá, Blackye!Gostei que viesse ver o meu blog! Régio é um poeta enorme, muito esquecido no tempo que passa...Conheci-o bem. Tive a sorte de ser sua aluna (como viu) e de o meu pai ter sido um dos grandes amigos dele em Portalegre!
Assim, conheci-o de outro modo. A casa amarela que refiro é a casa da "minha" infância, a única pintada de amarelo na minha rua...
A casa do Régio era uma casa antiga e branca. Hoje tem lá um Museu muito interessante, que vale mesmo a pena ir visitar!
Um abraço do coração
o falcão

MJ FALCÃO disse...

Já agora, digo também que gostei de ver o seu blog: Cesário é um dos meus poetas preferidos e o raminho de papoilas é ,lindo na sua simplicidade, tal como no poema...

M* disse...

Espero que me leia por aqui... É verdade, infelizmente. José Régio é esquecido com o tempo e é pena que não seja falado mais vezes. Eu cresci e nunca li nada dele, somente a Toada de Portalegre e a canção Fado Português. Só agora é que comecei a inteirar-me mais da obra do poeta.
Eu perguntei porque também sou da terra.. e a única que vejo com essas características é o chamado Palácio Amarelo.
Fico feliz que tenha gostado do meu blog e agradeço a resposta.
Eu confesso que não é dos meus poetas predilectos (Cesário Verde), mas este é um dos poemas que mais gosto, exactamente pela sua simplicidade.
Um abraço.